
Os setores de educação e saúde estão entre os mais impactados pelo mundo contemporâneo.
Transformações rápidas, novas exigências e a busca por inovação fazem com que essas áreas sejam constantemente desafiadas a se reinventar.
Recentemente, vivi uma experiência que me trouxe uma reflexão ainda mais profunda sobre essas áreas e que me motivou a escrever este artigo: estamos realmente preparados para incluir diferentes perfis no ambiente acadêmico e profissional?
Participo de uma equipe multidisciplinar que acompanha um jovem profissional diagnosticado com TEA (Transtorno do Espectro Autista, nível 1). Ele já atua no mercado, mas enfrenta grandes dificuldades para concluir o ensino superior. Sua capacidade de raciocínio abstrato é elevada, seu hiperfoco o torna altamente produtivo, mas desafios como a exposição, a priorização de tarefas e a interação social tornam o processo acadêmico extremamente desgastante.
A grande questão é: se esse jovem tem potencial e inteligência para atuar profissionalmente, por que o ensino superior se tornou um obstáculo tão grande para ele?
Uma Universidade Que Faz Diferença
O envolvimento da universidade nesse processo foi algo que me impactou positivamente. Diferente do que muitas instituições fazem, ela não apenas “acolheu” o aluno, mas criou e mantém um sistema real de suporte, integrando o estudante em um programa de inclusão efetivo.
Essa universidade começou, anos atrás, apoiando apenas um estudante com paralisia cerebral. Hoje, são 120 estudantes com diferentes condições que contam com um suporte estruturado para que possam se preparar para o mercado de trabalho e concluir sua formação acadêmica com dignidade e equidade.
E o que isso significa na prática?
✅ Apoio nas provas – adaptações para que o estudante consiga demonstrar seus conhecimentos sem barreiras desnecessárias.
✅ Apoio nas dificuldades acadêmicas – mentoria, ajustes metodológicos e suporte personalizado.
✅ Ajuda em trabalhos em grupo – mediação para garantir que as interações sejam produtivas e respeitosas.
✅ Preparação para o exercício profissional – iniciativas que vão além do diploma e focam na real inserção no mercado.
Esse modelo deveria ser o padrão, e não a exceção.
O Que as Empresas Precisam Aprender Com Isso?
O envolvimento da universidade nessa jornada me levou a outra reflexão: o quanto o mercado de trabalho está realmente preparado para incluir profissionais com diferentes formas de pensar e atuar?
Esse jovem tem um nível leve de TEA, o que não impede seu desempenho profissional. Pelo contrário, seu hiperfoco e raciocínio abstrato elevado são grandes diferenciais. No entanto, ele precisou de suporte acadêmico para conseguir ultrapassar barreiras que poderiam impedir sua conclusão do curso superior.
Agora, pensemos nas barreiras invisíveis dentro das empresas:
🔹 Recrutadores e gestores estão preparados para compreender e valorizar talentos neurodivergentes?
🔹 As empresas oferecem adaptações mínimas para que esses profissionais possam trabalhar com mais eficiência?
🔹 Existe uma cultura organizacional que realmente abraça a diversidade cognitiva e comportamental?
O mercado de trabalho enfrenta uma crise de mão de obra qualificada, mas ainda exclui, por falta de preparo, profissionais extremamente competentes que poderiam ser grandes ativos para suas operações.
RHs Estão Prontos Para Essa Discussão?
As áreas de Recursos Humanos precisam abrir espaço para esse debate. Empresas que realmente desejam inovação, produtividade e engajamento não podem mais ignorar a importância da inclusão de diferentes perfis profissionais.
Precisamos abandonar a visão limitada de que inclusão é apenas uma questão de “responsabilidade social” e entender que a diversidade em todos os âmbitos é um diferencial competitivo. Profissionais como o jovem que acompanho têm habilidades extraordinárias, mas precisam de ajustes para que possam performar com seu máximo potencial. E esses ajustes não são privilégios ou favores: são estratégias inteligentes para atrair e reter talentos.
Se uma universidade conseguiu desenvolver um modelo eficiente de inclusão, por que tantas empresas ainda resistem a essa transformação?
Acredito que a falta de informação ainda seja um grande desafio.
O Que Estamos Fazendo Para Mudar Essa Realidade?
Essa experiência me fez repensar não apenas o papel das universidades na inclusão, mas também o papel das empresas e da sociedade como um todo. Estamos preparados para entender que cada profissional tem sua forma de pensar e agir? Estamos dispostos a adaptar processos para incluir, e não para excluir?
O que vi nessa universidade foi mais do que um programa de inclusão – foi um movimento para transformar vidas.
E fica o questionamento para líderes, recrutadores, professores e gestores: o que estamos fazendo para garantir que talentos como esse jovem tenham oportunidades reais de desenvolvimento?
Se queremos um mundo do trabalho mais inovador, produtivo e sustentável, precisamos começar abrindo espaço para quem sempre teve que lutar sozinho para ser reconhecido.
Parabéns à Universidade Tuiuti e à coordenadora e professora Adriana Bezerra pelo movimento e pelos resultados alcançados.
Se este artigo pode ajudar outras pessoas com realidades semelhantes, encaminhe. Precisamos crescer juntos.
Esse foi um dos temas tratados no Café com a Dani
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