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PALAVRÕES E A ERA DA ATROFIA COGNITIVA

por Daniela Leluddak / quarta-feira, 09 julho 2025 / Publicado em Carreira, Liderança

Enfim, vou pegar carona em uma expressão nacional — um palavrão que não é novo, mas que, ultimamente, tem tomado proporções curiosas. 

Vivemos tempos em que o vocabulário encurtou, a paciência evaporou e a escuta profunda virou artigo de luxo. A comunicação — essa ponte entre mundos internos — foi reduzida a memes, áudios em velocidade 2x e frases de efeito. E, no meio desse novo alfabeto emocional, emerge ela: a expressão que não é nova, mas hoje soa rústica, direta e, curiosamente, libertadora — “Teu cu”. 

Nada muito diferente do “foda-se”, que por muito tempo foi a expressão favorita de quem queria cortar caminho. Mas sejamos justos: há quem tente inovar no desabafo — ou apenas reforçar algo que não se usava tanto. 

Sim, “teu c…” tomou as redes, os grupos de WhatsApp, os comentários de vídeos, palestras e até algumas conversas presenciais. Ganhou status de bordão nacional. Para alguns, é um grito curto e legítimo de indignação. Para outros, apenas grosseria embalada em humor. Para mim, ela revela algo mais profundo — ou mais raso, dependendo do ponto de vista: a simplificação extrema de qualquer tentativa de diálogo real. 

“Teu c…” virou resposta para tudo que exige elaboração: 

— Sem argumento? Teu c… 

— Sem paciência? Teu c… 

— Sem vontade de lidar com o outro? Teu c… também. 

E, trazendo meu pai para essa conversa… me perdoe, mas confesso: nunca escrevi ou falei “c…” publicamente — e tantas vezes. Talvez isso seja acompanhar a modernidade? Freud, corre aqui. (risos) 

O uso recorrente dessa expressão sugere o colapso do esforço de construir pensamento. Afinal, por que desenvolver uma ideia, sustentar um ponto de vista ou abrir um diálogo se posso liquidar tudo em dois segundos com uma glória sonora que ecoa por dias (ou anos)? 

Mas o que isso diz sobre nós? 

Diz que estamos cansados. Exaustos de explicar, justificar, conversar com quem não quer escutar. E, nessa exaustão emocional, buscamos atalhos para o alívio. Só que há um custo: a perda de profundidade, de vocabulário, de cognição. A linguagem não serve só para dizer — ela molda o que somos capazes de pensar e sentir. 

Há quem veja nisso um “empoderamento linguístico” ou um “desabafo popular”. Concordo em parte. Mas também enxergo um risco: o da atrofia da mente e do coração. Quando toda indignação vira meme, toda frustração vira palavrão, e toda tentativa de reflexão vira piada… corremos o risco de desaprender a pensar. 

E volto à pergunta que inquieta: O que estamos realmente querendo comunicar quando dizemos “teu c…”? Uma dor? Um limite? Um basta? Ou apenas a desistência de tentar algo mais profundamente humano? 

Sei que pode parecer moralismo. Mas não é. É apenas um convite. Um chamado para pensar que quando a linguagem empobrece, o mundo interno empobrece junto. E se a gente começa a perder o gosto pelas palavras — e pela essência — talvez perca também o prazer de construir pontes. E o sentido de viver em sociedade. 

E aí, meu amigo, minha amiga… o problema não será mais “teu c…”. Será o nosso. Ainda mais em tempos de inteligência artificial, algoritmos e respostas automatizadas. 

E indo nessa linha… será que daqui a pouco o ChatGPT, dependendo da pergunta, vai lançar mão dessa expressão também, só pra facilitar? Ou pior: será que vai virar estímulo ou até encerramento de uma reunião de trabalho com o time? 

Lanço aqui uma proposta: Será que conseguimos criar uma expressão que honre a emoção sem desonrar o vocabulário? Algo que eleve — só pra variar um pouco? 

A verdade é que outras expressões populares já carregavam essa mesma confusão: “filha da mãe”, “filha da puta” — quando eu fazia faculdade de Psicologia, lembro de longas discussões sobre como esses termos diziam mais sobre a nossa confusão mental do que sobre as pessoas. Afinal, todos somos filhos de uma mãe — isso é básico. E “filha da puta”? Um julgamento antiquado, cruel e, sobretudo, vazio. 

Esses termos surgiram numa época anterior à IA, à velocidade das redes e ao cansaço emocional em que vivemos. Ainda havia pausa. Ainda se refletia. Havia um certo limite saudável antes de falar. 

A pergunta que fica é: 

O que queremos mesmo ao simplificar tanto nossas expressões de indignação, alegria e frustração? 

Talvez não estejamos ficando mais engraçados. Talvez estejamos ficando mais vazios. 

E para não terminar apenas com a crítica, deixo aqui algumas sugestões — quem sabe para memes, bordões ou frases de impacto — que podem substituir o “teu c…” e trazer mais elevação à nossa linguagem: 

“Se eleva.” 

“Acorda.” 

“Desperta.” 

“Expande.” 

Ou, pra manter o tom debochado, mas com consciência: “Tua córnea.” (…porque talvez o que esteja mesmo faltando a todos nós… é enxergar um caminho que tende a se instalar e ficar.) 

Se esse artigo fez sentido pra você, compartilhe com quem ainda acredita nos diálogos construídos nas alturas da alma. 

Até a próxima. 

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